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Patricia Capitanio
O endividamento atingiu 77,9% da população, o maior nível histórico, tornando-se um dos principais vilões da saúde mental dos brasileiros nos últimos três anos (período de pandemia e pós-pandemia). Dados do Serasa mostraram que 69,43 milhões de pessoas já entraram 2023 com o nome restrito.
Durante a campanha Setembro Amarelo, é importante observar a relação entre saúde financeira e saúde mental. Uma pesquisa realizada no ano passado pelo Instituto Opinion Box revelou, por exemplo, que 83% dos endividados sofrem de insônia e 74% têm dificuldade para se concentrar; outros 74% têm surtos de pensamentos negativos e 61% viveram ou vivem sensação de crise ansiedade ao pensar nas dívidas.
Já a pesquisa “The Employer’s Guide to Financial Wellness 2019”, realizada nos Estados Unidos, apontou que pessoas com constante preocupação com falta de dinheiro são 4 vezes mais propensas à depressão, têm 3,4 mais chances de ter ataques de pânico ou ansiedade e 8 vezes mais chances de passar a noite em claro.
O que fazer para contar essa situação crítica? O primeiro passo é fazer o levantamento de todas as dívidas, com o intuito de negociar com cada um dos credores por ordem de prioridade. As dívidas de bens, como parcela de casa e carro, não podem deixar de ser pagas porque o prejuízo é maior em perder esse bem. É necessário enfrentar o medo e fazer uma “fotografia” real da sua situação.
Assim como entrar nas dívidas levou certo tempo, sair delas requer um roteiro de pagamento e paciência. O mais importante é aproveitar o momento de crise para identificar “o gatilho” que levou ao endividamento. É um fator emocional? É algo comportamental? Porque existe sempre alguma coisa por trás desse comportamento que deve ser identificado e trabalhado.
É importante adotar novos hábitos, entre eles, sugiro o uso de algumas perguntas antes de efetuar uma compra: Eu realmente quero? Eu preciso? Eu devo? Eu mereço? E por fim, eu posso? Ainda assim, tem que pesquisar preço e encaixar o “gasto” no planejamento mensal. Como a proposta é “reeducar-se”, não podemos ceder ao impulso na hora de tomar decisões financeiras.
Não vejo o cartão de crédito como vilão, mas quando a pessoa utiliza do modo errado, para aumentar o padrão de vida da família, pode sim se transformar em um problema muito sério devido às taxas de juros. É importante avaliar a maneira como vem sendo utilizado para poder evitar desperdícios e compras por impulso.
Outra questão importante para ser valorizada ao tratar de saúde mental é a importância de falar sobre os nossos sentimentos. É claro que você não vai sair por aí contando sobre a sua vida financeira para desconhecidos ou chorando todas as pitangas para os amigos na mesa do boteco.
No entanto, é fundamental encontrar um ambiente seguro onde você possa falar sobre dinheiro, as suas dificuldades de lidar com ele e refletir de que forma a sua saúde mental é afetada por essas questões. Muitas vezes, as dívidas são desencadeadas por traumas de infância que necessitam de um ambiente terapêutico para serem investigados e resolvidos “pela raiz”. Vamos pensar sobre isso?
Patricia Capitanio é graduada em Ciências Contábeis, com MBA em Auditoria e perícia Contábil, Liderança e Coaching e Gestão Organizacional, palestrante, escritora, mentora e consultora em gestão financeira.
Fonte: Gazeta Digital