
O governo finaliza um pacote com medidas de incentivo fiscal para beneficiar
os clubes de futebol e entidades esportivas que aderirem a um programa
voluntário de profissionalização de gestão. Segundo o ministro do Esporte, Aldo
Rebelo, parte dessas medidas fará parte do decreto de regulamentação da Lei Pelé
que será anunciado brevemente pela presidente Dilma Rousseff. O pacote está na
Casa Civil. Em entrevista ao Estado, o ministro disse que as medidas estão
fundamentadas em estudos consistentes indicando que o incentivo tributário gera
benefícios de mão dupla, pois o governo pode ganhar com o aumento do que chamou
de “PIB do esporte”.
Números levantados junto a instituições financeiras
privadas estimam que a Copa produzirá um impacto de 0,4% no PIB nacional (R$
65,5 bilhões), até 2014, porcentual que poderá chegar a 1,2%, em caráter
permanente, se houver gestão profissional, na avaliação de Rebelo. “Não é só uma
coisa de governo, é de interesse da sociedade”, diz, acrescentando mais números
sedutores, como o da geração de 3,6 milhões de empregos diretos e indiretos pela
Copa e as Olimpíadas, que podem virar realidade com a consolidação do processo
de profissionalização.
Aldo abordou também o cronograma das obras da Copa,
admitindo atrasos em algumas, mas ressalvando que aquelas constantes da carta de
compromissos com a Fifa, como as dos estádios, estão em dia. Veja os principais
pontos da entrevista.
Profissionalização dos clubes. Acho que nós devemos
buscar a profissionalização da gestão dos clubes e das entidades esportivas. Não
é só uma coisa de governo, é de interesse da sociedade. Essa profissionalização
terá como principal conseqüência a valorização da marca dos clubes, que não são
mais aquelas entidades semi-armadoras dos anos 60.
Hoje os clubes têm de
lidar com patrocinadores, vendas de direitos de transmissão de TV, transações
milionárias envolvendo jogadores. Sem uma gestão profissional, você desvaloriza
esse ativo dos clubes, a marca diante dos patrocinadores.
O governo é receptivo
a isso. Uma parte dessas medidas já está contida na regulamentação da Lei Pelé,
no decreto que a presidente Dilma deverá anunciar em breve.
Proposta
do Governo.
O governo deve propor um programa de incentivo aos clubes que adotarem
medidas saneadoras, democratizadoras e de profissionalização da gestão. De que
forma? Promovendo incentivo tributário aos clubes que adotarem essas ações.
Porque o governo só tem a ganhar se o PIB do esporte for ampliado. Cresce o
nível de renda, o emprego direto e indireto, aumenta a comercialização de
equipamentos, camisas, o acesso do público aos estádios.
O governo arrecada mais
por conta do aumento da atividade econômica. Além disso, os clubes passam a ter
mais respeito dos patrocinadores. Os clubes querem mesmo um programa semelhante
ao Prouni, que troca incentivos fiscais por bolsas de estudo nas universidades
privadas. A ideia é trocar tributos por bolsa para atletas de baixa renda, que
receberiam treinamento, alojamento e assistência médica em troca das dívidas
fiscais.
Adesão voluntária.
O governo deve fazer um programa de estímulo, não obrigatório, ou seja, de
adesão voluntária. Não acho que o governo deva tomar atitude impositiva. Mas os
interessados só poderão aderir conjugando metas de profissionalização e de
democratização. Os clubes vão se convencendo disso. Agora mesmo fizemos campanha
pelas eleições diretas no Palmeiras e foram aprovadas por unanimidade. Não foi
difícil, embora tenham se passado cem anos sem eleições diretas.
Dívidas com o
INSS. As dívidas com o INSS já estão sendo resolvidas. Parte dos clubes já
acertou suas dívidas com a Previdência por meio da adesão aos Refis e à
Timemania.
Corinthians e Caixa. Eu não creio que tenha havido interferência
política nesse contrato. A Petrobrás patrocinou durante duas décadas o Flamengo.
Quando a empresa decidiu se retirar, eu fui procurado pela direção do Flamengo
para que o patrocínio continuasse.
A Petrobrás patrocinou até time argentino,
o River Plate. A Caixa e o Banco do Brasil patrocinam o vôlei. Eu acho que é um
contrato de publicidade que tem legitimidade. É uma verba que a Caixa destinaria
ao veículo que lhe devolvesse os melhores resultados. Seria melhor que mais
empresas estatais pudessem patrocinar clubes e esporte no Brasil.
Cronograma
em dia. As obras dos estádios estão em dia. Dos 12 que vão sediar os jogos, seis
serão entregues até a primeira quinzena de abril. Pela ordem, o Castelão em
Fortaleza, o Mineirão em Belo Horizonte, o Maracanã no Rio, o Mané Garrincha em
Brasília, a Fonte Nova em Salvador e a Arena Pernambuco em Recife. Os demais
estarão prontos até dezembro.
Aeroportos. As obras dos aeroportos, de
expansão física para receber mais pousos e decolagens, foram iniciadas. Também
há obras de logística, como despachar bagagem, reforma dos
toaletes.
Encargos da Copa. Temos dois encargos. Um é aquele
assinado pelo governo com a Fifa, referente às obras essenciais da Copa, sendo
os estádios em primeiro lugar, a melhoria dos aeroportos e as obras de
acessibilidade aos estádios. O outro é a matriz de responsabilidade, que é uma
coisa do governo brasileiro, não uma exigência da Fifa. É a consolidação das
obras que estavam no PAC e o governo julga que sejam importantes para a
Copa.
São de responsabilidade conjunta do governo federal, Estados e
municípios. Inclui obras de mobilidade urbana, como viadutos, metrô, VLT,
portos. Se um governo estadual diz que não terá condições de entregar a obra até
junho de 2014, ela sai da matriz e volta ao PAC. A cada seis meses ela é
atualizada.
Obras temporárias. Quem vai suportar os custos
das obras temporárias são os proprietários dos estádios. Se forem públicos, será
o governo, se privados, a responsabilidade é do respectivo proprietário. O
cálculo desses custos ainda está sendo feito pelo Comitê Organizador Local. Ouvi
de governadores é que poderá variar de R$ 20 milhões a R$ 30 milhões, alguns
projetam até R$ 50 milhões. Mas ainda não há uma definição.
A mim não pediram
ainda (ajuda do governo federal para bancar os custos das obras temporárias).
Mas acho que já temos as nossas responsabilidades. Arcar com mais esta não está
previsto. Mas um diplomata nunca diz não.
Copa do Mundo. Não
haverá problemas. Basta ir atrás das últimas duas ou três Copas, que você
antecipa boa parte dos problemas e soluções. O Brasil já fez coisas mais
difíceis. Já fizemos uma Copa em 1950, construímos o Maracanã em dois anos e a
Copa aconteceu. Não fosse a tragédia na final (no jogo contra o Uruguai), teria sido
perfeita.
Fonte: SportSinop/Valcir Pereira e Futebol MT
Foto: Redação/SportSinop